agosto 28, 2012

ligar/desligar

Às vezes temos idades onde não somos nada. Julgamo-nos tão grandes e julgam-nos tão gigantes que chegamos a ser vazio. Queremos ser muitas nações, queremos pisar muitos chões e depois ficamos sem ar para respirar.
No amor é assim às vezes, nem chegamos a acordar desse sonho que nos roubou a consciência. Viajamos por tantos sítios de mãos dadas, perdemo-nos em tantos desertos com o coração cheio e queremos ser tão únicos e quando nos roubam essa maravilhosa realidade, dói muito viver de uma memória. Sabemos que o tivémos, temos a certeza de que pelo menos esse passado existiu mas ficamos fracos de saber que amanhã já não vamos ser os mesmos. Já não nos vamos ter da mesma forma. E enquanto isso acontece, vamos ficando com mais idade. Quando julgamos que encontramos a fronteira do amor, só queremos que esse amor perdure. Queremos ficar encostados ao peito e ouvir a respiração. Não pedimos sexo, não pedimos física nem química. Pedimos amor e alguém para ver televisão ao nosso lado durante a noite. Alguém para ouvirmos a respiração quando acordamos a meio da madrugada. Alguém para olhar quando não temos sono. Alguém que nos ajude a respirar a sentirmo-nos grandes num corpo pequeno. Só pedimos isso, um pouco de amor.
Queremos sempre mais. O nosso mal é esse é querermos sempre mais. Mas eu já tinha muito. Contigo já havia muito e dou por mim agora a tentar entender como fui ficar sem nada.
Enquanto penso nisso lembro-me que te quero dizer que não te odeio mas que ando triste por não te ter. Ando com a televisão desligada e sem companhía para segurar o comando.
Penso na tarefa difícil que é agora esquecer-te porque atrás no tempo foi muito fácil gostar de ti. É muito fácil gostar de ti. É fácil apaixonarmo-nos por ti. É fácil amar-te. É fácil cair por ti e ficar caídinho por ti. É tão fácil. É muito fácil até. E por isso é que é impossível esquecer o teu sorriso. Esquecer os teus olhos. A tua boca e a tua voz.
Isto é terrível e tarefa para gigantes e eu nunca fui gigante nem quis ser gigante.
Tenho mais idades que tu, mas pareço uma criança ao teu lado. Porque o amor é assim. Faz-nos pequenos a sentirmo-nos tão grandes.

E agora pergunto-te "não queres ver televisão comigo esta noite?"

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