abril 02, 2010

o que sempre foi verdadeiro


Peguei no telefone que estava dentro da mala. Parecia sorrir vindo do fundo da bolsa de camurça. Tirei-o dentro da mala e encostei-o ao meu ouvido.


-Estou?- perguntei como sempre perguntava.

- Mariana? Estou...Olá! É o Tiago!- disse ele entusiasmado.

- Ah olá Tiago, tudo bem?

- Sim. Olha, achas que te podes encontrar comigo agora, na Faculdade?- interrogou ele. Nunca desconfiara que me esqueçera da agenda em cima da mesa do canto do café.

- Ahh... eu acho que sim. Exactamente onde?- Já conversávamos como se fôssemos irmãos. Era estranho.

- Na entrada. Daqui a uma hora, pode ser?

-Sim, claro. Até já.


Passado uma hora, estava à sua espera à entrada da Faculdade, com a mala ao ombro o casaco aberto, porque a brisa não chegava para fazer pele de galinha nos braços.

-Mariana?- perguntou ele com receio atrás de mim. Tocou-me e virou-se. Sorriu-me como fez da primeira vez.

- Olá.. então, o que me querias?

- Já vais ver. Anda, vem comigo.

Dirigimo-nos para um lugar onde não havia ninguém. Parecia um lugar que apenas alguns conheciam.

- Onde é que vamos?- perguntei eu curiosa.

- Já vais ver. Vais gostar.


Chegámos a uma porta grande, em tons de amêndoa. Parecia uma porta de um castelo.

- É aqui. Espera um bocado que tenho de abrir a porta.

Do bolso das suas calças saiu uma chave velha de metal que rodou na fechadura e abriu a porta com algum esforço.

Acompanhou-me ao centro da sala e eu levei as mãos à boca. Os meus olhos ficaram estáticos e não conseguiam respirar.

Olhei para o Tiago surpresa e ele sorria como se estivesse a gozar com aquela representação de suspresa.

- Tiago..isto são os arquivos da Faculdade, és doido?

- Sim e qual é o problema?

- Propriedade privada nunca ouviste falar?- ele sorria para mim entusiasmado em me mostrar todas as fantásticas histórias que estariam escondidas nos milhares de livros ali guardados.

- Sim..mas, isto é fantástico. Posso dar uma vista de olhos?- perguntei eu, mordendo o lábio como uma garota à espera de um rebuçado.

-Sim, claro. mas tem cuidado para nao estragares nada.

- Ainda não me disseste qual era o teu herói preferido.

Avançei para uma mesa gigante ao lado de uma estante que devia ter uns poucos metros. Os metros que preenchiam a parede.

Ele pareceu exitar na resposta mas lá se pronunciou.

- Hércules.

-Estás a brincar comigo.

-Eu sei que parece brincadeira. Mas algumas histórias da Disney fazem sentido.

- Não... não é isso. Esse é o meu herói preferido.

-Não fiz por mal. Desculpa. Gosto dele- ele sorriu e acomodou-se na mesa velha, onde por horas conversámos sobre mil e um assuntos.

Por entre as palavras pareciamos conhecer-nos um pouco mais e o tempo não parecia correr devagar.

Quando regressei para um próxima sessão ele não se encontrava lá. A porta estava aberta, e eu segui sem medos. Eu sabia que iria regressar.

Afastei-me da porta, que fechei com cuidado e dirigi-me para a mesa, a fim de pousar as minhas coisas e de me instalar.

Em cima da mesa estava a pequena agenda castanha que ficara na mesa do café há 2 semanas atrás. Um pequeno bilhete sobressaía na capa e nele dizia:


" Hoje os livros vão te fazer companhía. Tive de ir a um sítio.


Tiago.



p.s achas que podes deixar-me um pouca do teu sorriso para eu levar depois?"

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