abril 02, 2010

e digo-te que é real


Continuaste ali, ao fundo do corredor ansioso como um rebento de uma planta na Primavera, e viste-me cautelosa a mover-me para a saída. A entrada do nosso primeiro encontro. Eu continuei e tu avançaste até mim como se tivesses algo para me dizer em jeito de necessidade. Não são precisas muitas palavras para se dizer o que se sente. Apenas se sente.


- Desculpa. Porque é quiseste saber todas aquelas coisas?- pronunciou-se ainda com medo e receio nos lábios.

Eu sorri timida ainda e prossegui.

- Porque quero saber as respostas. Sei lá, tirar todas estas dúvidas da minha cabeça? Enfim, não são tantos problemas como os de Fernando Pessoa. Acreditas?

Ele riu em tom de brincandeira e aproximou-se da minha presença e senti um calor no ar fresco que corria no corredor vazio. As nossas vozes suavam a soalho velho que nem os sótãos que estão cheios de segredos antigos.

- Queres ajuda? Eu posso ajudar.

Olhei para o relógio assustada, mas mesmo assim com vontade de ficar. Era a verdade.

- Eu tenho que ir... Mas estava a pensar ir tomar um café. Talvez queiras ir...ajudavas-me a aumentar as perguntas do questionário- disse eu, com a sobrancelha levantada, desafiando a vontade daquele estranho simpático.

- Sim.

- Ah, como é que te chamas?

- Tiago.

- Prazer Tiago, o meu nome é mariana.

Aproximei-me e estendi-lhe a mão e nos nossos dedos tocaram-se como se conhecessem há milhares de décadas, que sabiam a anos de experiência, de conversas e palavras de apoio.

- Vamos?- apontou a mão para a saída e moveu-se. O seu semblante era novo. A voz parecia vir de um lugar longínquo onde há verde, onde a brisa pisa os cabelos ao som da erva a correr alegre na paixão dos pequenos. A voz dele.

- Onde queres ir? -perguntou ele.

-Não sei. Tu é que estudas aqui, deves saber mais que eu. Leva-me para um sítio que gostes. Sem confusão. A dos livros já me chega.

Chegámos a um café pequeno no meio da cidade. Um sítio que eu nunca tinha visto. Era um espaço pequeno, que nem parecia pertencer a Lisboa. Parecia vir de uma pequena vila algures em Inglanterra ou na Escócia.

Sentámo-nos e pedimos dois cafés quentes. Cheirava a café. Cheirava a paz e calma ao mesmo tempo que observava os seus olhos e o movimento das suas mãos. Bastava isso para regressar à realidade daquele encontro e perceber que estava mesmo a viver o presente na terra. Suava uma pequena música no ar. Não sei que som, era mas desconfio que era uma rapariga a cantar. Uma voz triste e desconfiada.

- Então que dúvidas tens? Achas que a faculdade não é o que queres?

- Não te disses isso. Eu queria saber se é mesmo isto que quero fazer. Uma coisa é o que tu vês nos filmes e lês nos livros por pura brincadeira, outra é quando estudas e toda a ilusão que tinhas se vai e destrói a imagem que tinhas das histórias que tanto gostavas.

- Não tem que ser assim. Vais descobrir muitas coisas que vais amar. Eu até desconfio que te vais rir muito durante estes 3 anos.

Durante vários minutos conversámos, enquanto várias figuras passavam pela porta de madeira velha do café. Iam passando velhos, crianças, adolescentes e pequenas senhoras que estariam a pensar no jantar que teriam de preparar para os seus filhos.

Ao fim de um tempo, olhei de suspance para o relógio de novo e apressei-me.

- Tenho de ir. Já está a ficar tarde e há quem tenha de chegar a horas do jantar a casa.

Peguei depressa na minha mala e virando-me para trás para o observar de novo disse:

- Obrigada Tiago. Gostei muito deste bocadinho. Vemo-nos depois.

E saí. O seu olhar queria dizer mais alguma coisa. Parecia que queria dizer mais alguma coisa que lhe ficara entalado na garganta. Parecia querer dizer que para ele também era real. Que sabia às flores frescas e ao sabor da brisa fresca de verão acompanhada das cerejas que eu conduzia no meu pensamento.

Parecia querer dizer muitas coisas. menos a de que deixara a minha pequena agenda em cima da mesa.






Paramore- The only exception

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