março 27, 2010

Não És tu


Era assim, tinha esse olhar,

A mesma graça, o mesmo ar,

Corava da mesma cor,

Aquela visão que eu vi

quando eu sonhava de amor,

Quando em sonhos me perdi.


Toda ssim; o porte altivo,

O semblante pensativo,

E uma suave tristeza

Que por toda ela descia

Como um véu que lhe envolvia,

Que lhe adoçava a beleza.


Era assim; o seu falar,

Ingénuo e quase vulgar,

Tinha o poder da razão

Que penetra, não seduz;

Não era fogo, era luz

que mandava ao coração.


Nos olhos tinha esse lume,

No seio o mesmo perfume,

Um cheiro a rosas celestes,

Rosas brancas, puras, finas,

Viçosas como boninas,

Singelas sem ser agrestes.


Mas não és tu...ai!, não és:

Toda a ilusão se desfez.

Não és aquela que eu vi,

Não és a mesma visão,

Que essa tinha coração,

Tinha, que eu bem lho senti.


Almeida Garrett, in 'Folhas caídas'.




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